quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Crise hídrica e a regulação da grande mídia
Em qualquer programa
jornalístico a nível nacional, vem se observando notícias sobre a crise hídrica
que assola principalmente os estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro, relatando a situação vivenciada, diariamente, pela população com a
carência de água devido o baixo nível dos rios, bem como diversas propostas que
os chamados “especialistas” apontam para solucionar tal problema.
Uma grande parte da
população nordestina vem sofrendo, anos após anos, com problemas decorrentes da
seca, sem que o assunto tivesse uma cobertura dos grandes meios de comunicação
social, principalmente as redes de televisão, de forma semelhante como vem
ocorrendo atualmente, quando a falta de água atingiu os estados da Região
Sudeste do Brasil.
O destaque dado ao
assunto mostra como, historicamente, a grande mídia nacional colocou a Região
Nordeste em segundo plano, já que no período em que a seca era um problema
específico do Nordeste não havia tanto espaço de abordagem da questão nos
noticiários, ocorrendo, apenas, reportagens esporádicas.
Outro aspecto que merece ser analisado é o comportamento dúbio dos meios
de comunicação em massa, que contribuíram decisivamente com a estratégia
política de governos estaduais, principalmente no caso de São Paulo, no sentido
de esconder a crise hídrica durante o período eleitoral do ano passado,
buscando beneficiar candidaturas ao executivo estadual, só divulgando fatos
isolados da situação até a realização das eleições, quando, então, passou a
divulgar o problema com maior ênfase, como se, anteriormente, os problemas não
estivessem ocorrendo em larga escala.
No tocante ao conteúdo dos programas jornalísticos se verifica, em
grande parte, que a falta de chuva é colocada como a vilã da crise hídrica, sem
haver um aprofundamento das verdadeiras causas dos problemas, as quais se
encontram relacionadas às ações anteriores do ser humano referentes ao uso
irracional dos recursos naturais e a ideia que a água era um recurso
inesgotável.
Algumas reportagens procuram culpabilizar as pessoas individualmente
pela crise hídrica, diante problemas de vazamento nas instalações de suas
residências ou pelo aumento do consumo da água, que, certamente, tem
contribuição com o atual estado, porém não no nível alardeado nos noticiários,
lembrando que haveria necessidade de analisar a problemática com maior
profundidade.
Caso a grande mídia realizasse tal análise verificaria que a forma como
parcela dos seres humanos pertencente a elite privilegiada utiliza os recursos
naturais, buscando manter o “status quo” do lucro excessivo e da propriedade
privada, contribui decisivamente com o uso irracional de água e ampliação da
crise hídrica, lembrando que tal utilização é baseado no argumento defendido
por parte da sociedade humana, que tendo como base a concepção que os seres humanos
foram feitos a imagem e semelhança de Deus, logo tem poder total sobre a
natureza, que, então, pode ser transformada e apropriada para
manutenção da exploração econômica e exclusão social.
Como a questão não é reportada nitidamente pelos grandes meios de
comunicação social, não se analisa com profundidade que a diminuição do volume
de águas nos rios e demais recursos hídricos e os prejuízos ao ecossistema ali
existente são consequência do fato que o ciclo hidrológico não vem ocorrendo completamente
devido a poluição, queimadas, devastação de mata ciliar e desmatamento de forma
generalizada, havendo uso inadequado do solo para atividades humanas.
É essencial, portanto, que os meios de comunicação em massa assumam sua
responsabilidade social, e, para tanto, deveria realizar um trabalho educativo
para que a população torne-se verdadeiramente protagonista na busca de soluções
para crise hídrica, pois sem o controle social e a participação da sociedade
dificilmente as saídas duradouras para tal crise serão encontradas e
viabilizadas pelos governantes.
Finalizando, observa-se a importância
da regulação e democratização dos meios
de comunicação em massa, pois, atualmente, utilizando o argumento da liberdade
de imprensa se tem uma atuação deplorável da grande mídia, a qual não atende os
interesses da coletividade, como se vê na questão da crise hídrica acima
abordada.
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