As ações de educação ambiental são sempre apontadas como caminho para que ocorram mudanças de práticas por parte das pessoas no tocante aos problemas ambientais, cabendo, contudo, questionar os resultados obtidos com o desenvolvimento de tais ações em todo planeta.
O questionamento se torna necessário para que possamos efetuar uma avaliação sobre os processos adotados nas ações de educação ambiental no tocante a concepção e procedimento de construção da proposta, além dos resultados obtidos.
Em muitas situações, observamos que determinados(as) especialistas se julgam com capacitação e preparação suficientes para levar uma proposta consolidada para o “público alvo”, como se o mesmo não tivesse condições de contribuir na construção de tal proposta.
Esta situação decorre da visão da superioridade de uma classe sobre outra, não se admitindo que pessoas com menor nível de escolaridade e de baixa renda possam oferecer contribuições decorrentes de suas experiências de vida em qualquer ramo da atividade humana, fato já desmitificado em diversas ocasiões.
É importante lembrar, ainda, o pensamento de Paulo Freire, sobre o educador e o educando, onde cada um contribui com o processo de aprendizagem do outro, numa troca rica e proveitosa, o que, infelizmente, em muitas ocasiões, não é praticado ou se torna apenas parte de um discurso.
Outro fator negativo se refere ao conteúdo de materiais utilizados em determinadas ações (vídeo, cartilha, folder, entre outros) que não possuem uma linguagem assimilada pela população envolvida, logo não produz os resultados desejados, já que não foram construídos a partir da história de vida das pessoas diretamente interessadas na questão.
A construção de qualquer proposta de ação de educação ambiental decorre da concepção que se tenha sobre o meio ambiente e como o ser humano se encontra inserido no mesmo, o que leva, também, a exploração e descriminação de outros seres humanos julgados inferiores.
Neste sentido, é fundamental avaliar qual a concepção de sociedade que norteia uma ação de educação ambiental, observando se a mesma busca manter o modelo econômico em que vivemos ou faz uma leitura crítica sobre a raiz das mazelas que assolam a humanidade.
Verifica-se, então, que seja qual for o tema abordado em uma ação de educação ambiental, poderá obter resultados satisfatórios, partindo do princípio que ocorra uma construção coletiva e se faça a ligação com os problemas do dia a dia da população decorrentes do sistema capitalista.
Compreendo, então, que uma ação de educação ambiental não pode deixar de incluir o debate político e social no seu conteúdo, possibilitando que as pessoas possam efetuar uma análise sobre os verdadeiros motivos dos problemas ambientais locais e globais e, a partir de então, possam conscientemente mudar suas práticas que não estejam contribuindo com uma melhor qualidade de vida e sustentabilidade ambiental.
"que determinados(as) especialistas se julgam com capacitação e preparação suficientes para levar uma proposta consolidada para o “público alvo”, como se o mesmo não tivesse condições de contribuir na construção de tal proposta".
ResponderExcluirEnfim temos uma voz que reconhece que a sociedade e o povo podem "contribuir". Seria interessante que os políticos e os donos do poder ouvissem o Sr. Povo.
Betto.
O capitalismo é produto da mente humana que tem modo de operação, o querer mais.
ResponderExcluirMudar o sistema com esse condicionamento mental irá criar ilhas de privilegiados e nada mudará realmente.
Pensar em educação é esclarecer ao indivíduo que ele não é essa mente, que deseja infinitamente e jamais será saciada.
Essa hipinose e identificação que é o cerne da questão. O ente humano é alguma coisa anterior a sua mente. Quando sonhamos algumas vezes somos o observador de nós mesmos no sonho. Este fenômeno só pode acontecer se nós não formos a mente. Como pode a mente se auto observar. Isto é anti cientifico, não há lógica, pois é algo superior a lógica mental.
A imagem que temos de nós mesmos é o nosso ego e este é formado pela mente, portanto, querer mais é seu modo de operação também.
Dessa forma o indivíduo começa a acumular e explorar, pois sempre quer mais e todos os indivíduos juntos formam a sociedade.
O capitalismo é espontaneamente alimentado pela mente que deseja mais, melhor e maior. Acho inconsciente o termo mais adequado a pessoa que acha que é sua imagem ou sua cabeça. Uma educação transformadora tem que sentir esse fato e compreender que não é a informação que a mente sempre vai querer mais, o ponto, mas a consciência que o corpo é temporário, que a mente não é você, que não és só lógica, mas intuição, que não és só prosa, mas poesia.
O explorador precisa que sua estima seja baixa por isso ele usa o acumulo como força, mas esta força é baseada nas coisas externas e isso tudo ele deixará algum dia na terra e sua inconsciência deixará herdeiros espontaneamente.
Compreender o individuo é ir além do ideológico que cria um paraíso no futuro, isso é projeção de um passado mais colorido.
A mente nunca está no presente ou está no passado remoendo ou no futuro projetando esse é seu mecanismo. Uma educação de qualidade deve trazer o ser para o aqui e agora para uma compreensão do imediatismo e da interdependência dos seres na terra. Esta educação trabalha o ser interior e tem compaixão da inconsciência. Uma pessoa consciente de tudo isso sabe da transitoriedade e tem ética espiritual que é superior aparente. Bebendo em Heráclito, que amo muito, quando afirma que a harmonia oculta é superior a aparente.
EVANDRO ARAÚJO