terça-feira, 20 de novembro de 2012
Batuque na cozinha., sinhá........ vai ter que querer
Em uma de suas músicas mais
conhecida, Martinho da Vila canta que ”batuque na cozinha, sinhá não quer”, mostrando
como o toque do povo negro não era aceito na época da escravidão, e só ocorria
nas senzalas, escondido da elite branca, que tentava impor a cultura e demais
manifestações europeias em solo brasileiro.
Durante anos, tal prática
permaneceu inalterada, buscando-se a desconstrução de qualquer manifestação de
outras raças, só se aceitando aquelas de origem ocidental, na tentativa de afirmar
a superioridade cultural da raça branca sobre as demais, consideradas como de
segundo ou até mesmo de terceiro plano.
Em rápida análise, chega-se
a constatação que a frase da música de Martinho da Vila permanece atual, ou
seja, a sinhá é simbolizada pela elite e os seguidores de seus pensamentos e
ideias, que teimam em não aceitar as expressões culturais de origem não
ocidental, querendo manter as mesmas afastadas e sem espaço na sociedade, na
tentativa de perpetuar uma supremacia cultural.
As manifestações culturais
de origem afro-brasileira autênticas e sem apelo comercial, por exemplo, não conseguem espaços efetivos nos grandes
meios de comunicações sociais, inclusive chegando a ser objeto de comentários
preconceituosos, principalmente quando se referem às religiões de matriz
africana, apesar de serem aceitas no período carnavalesco, quando se tornam até
atrações.
A situação evidenciada no
tocante as manifestações culturais e religiosas demonstra a necessidade de
mudanças urgentes no interior da sociedade brasileira, já que a discriminação
racial é algo que permanece no dia a dia, mesmo que alguns segmentos neguem tal
situação, tentando esconder uma realidade cruel e desumana.
As raças negra e indígena
buscam superar os obstáculos históricos criados para o reconhecimento e
valorização de suas práticas culturais e religiosas, salientando que as mesmas vêm
procurando dar respostas aos atos de intolerância e a falta de respeito de
determinados segmentos sociais.
Neste contexto, deve ser
combatido o discurso que o povo negro e indígena se mantem como vítimas de um
processo, já que tais povos sempre foram protagonistas de suas histórias ao
longo do tempo, resistindo e lutando contra as práticas discriminatórias da elite
brasileira, mantendo suas práticas culturais vivas e fortes.
É importante salientar que
qualquer manifestação cultural e religiosa necessita e deve ser respeitada,
independente de sua origem racial, pois só assim o Brasil poderá encontrar o
caminho que não haja encobrimento de atitudes intolerantes e preconceituosas.
Apesar da oposição de
determinados segmentos, as expressões culturais do povo negro e do indígena vão
se fortalecendo, indicando que, mesmo contra a vontade da sinhá, o batuque não ficará
restrito à cozinha, mas ocupará espaços diversificados no interior da sociedade
brasileira, representando avanços e conquistas fundamentais para que se viva em
harmonia entre as raças.
sábado, 3 de novembro de 2012
Zumbi e o "Mês da Consciência Negra"
O mês de novembro é
denominado do “Mês da Consciência Negra”, em homenagem a memória de Zumbi,
líder do Quilombo dos Palmares, assassinado no dia 20 de novembro de 1695, lembrando
que aquela comunidade, assim como outros quilombos representavam um local de
luta e resistência da população negra, que não aceitava viver no regime da
escravatura e buscavam organizar um modelo diferente de organização social.
A construção desse modelo se
baseava nas mudanças nas relações política, econômica e comunitária se contrapondo
ao regime colonial da época, o que levou ao crescimento dos quilombos,
notadamente o de Palmares, que resistiu por mais de um século as tentativas de
destruição da elite branca de então, sendo constituído, principalmente, por escravos
e escravas dos engenhos de açúcar.
A morte de Zumbi e o
massacre do Quilombo dos Palmares representam um momento importante da História
do Brasil, servindo de exemplo para lutas posteriores da população
afro-brasileira, que, ao longo do tempo, continuou sendo colocada em segundo
plano até os dias atuais, apesar do fim da escravidão ter ocorrido há mais de
cem anos.
A celebração do “Mês da
Consciência Negra” é uma oportunidade para desmitificar a ideia que no Brasil
há uma “democracia racial”, com igualdade de direitos entre as pessoas,
independente da cor da pele, a qual é defendida pela elite com a propagação
através da mídia conservadora e, infelizmente, possuindo aceitação de
determinados segmentos sociais.
Outra questão que deve ser
desmitificada se refere ao discurso que os casos de preconceito e discriminação
são fatos isolados, o que não condiz com a verdade, pois a população negra vem
passando por atos discriminatórios nas esferas de relacionamento da sociedade
brasileira, apesar de todo aparato legal contra tal prática.
É importante ressaltar que
as atitudes racistas nem sempre ocorre diretamente, se verificando uma
camuflagem através de atitudes sutis, como, por exemplo, um olhar, mostrando
que o preconceito racial é algo que se encontra enraizada nas pessoas, devido,
possivelmente, ao processo histórico de formação do Brasil.
Como forma de combater o argumento
da existência de racismo, são citados os exemplos isolados de pessoas negras
que alcançaram posições de destaques na sociedade brasileira, querendo passar a
ideia que outras poderiam se encontrar em situações semelhantes, o que não é
verdadeiro, pois a maioria da população de origem afro-brasileira não teve e
ainda não tem condições e oportunidades sociais e econômicas para trilharem no
mesmo caminho.
Em contrapartida a tese que
o problema brasileiro é social e não racial, defendida por
alguns segmentos sociais, seria interessante observar a cor das pessoas que
mais sofrem problemas decorrentes das mazelas do capitalismo, ou seja, a
exclusão social atinge em larga escala a população negra, demonstrando que os problemas social e racial estão associados.
A exclusão negra
no Brasil é, portanto, um fato concreto, se
verificando que a mesma permanece nas senzalas que, nos dias atuais, são representadas
pelas favelas, morros e as ruas das cidades, sofrendo preconceito diante
suas manifestações culturais e religiosas, vivendo de profissões e atividades ainda discriminadas por setores da sociedade, entre as quais empregadas(os) domésticas(os), garis e catadores(as) de materiais recicláveis, além de ser o grande contingente de pessoas mortas nas chacinas, principalmente os mais jovens.
Espera-se que, em um futuro
próximo, se possa comemorar o “Mês da Consciência Negra” de forma diferenciada,
havendo espaço para celebrar uma sociedade fraterna e com igualdade verdadeira
entre todas as raças, o que necessitará de um amplo e árduo caminho de mudanças
de postura, quebrando paradigmas e barreiras surgidas desde que o povo negro foi
trazido contra sua vontade da África e começou a formar os quilombos.
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