domingo, 16 de fevereiro de 2014

Blog de Ademir Damião: A insustentabilidade do lixo

Blog de Ademir Damião: A insustentabilidade do lixo

A insustentabilidade do lixo


A evolução da problemática dos resíduos sólidos (comumente denominado lixo) se encontra diretamente ligada com a organização histórica da sociedade humana, havendo, nos primórdios da civilização, uma relação equilibrada com a natureza e por sua característica nômade, observa-se uma minimização dos impactos gerados pelos resíduos, que eram caracterizados basicamente como orgânicos e constituídos dos restos de alimentações.
Com o surgimento e crescimento das cidades, observa-se que vão se registrando problemas decorrentes da geração do lixo, diante o desenvolvimento das atividades comerciais, e, posteriormente, com o aceleramento de tais problemas com o processo da Revolução Industrial e o êxodo da população rural para os centros urbanos, com o lixo mudando sua caraterística ao longo do tempo, culminando, atualmente, em uma grande quantidade de resíduos descartáveis.
A gestão dos resíduos sólidos se tornou paulatinamente em um dos maiores desafios das administrações municipais, visto o acúmulo dos problemas, lembrando que, anteriormente, a questão do lixo não fazia parte das prioridades das prefeituras, o que ocasionou o surgimento de diversos lixões, muitos dos quais ainda continuam provocando danos socioambientais apesar de estarem desativados.
Apesar de ser uma atribuição municipal, observa-se a terceirização generalizada dos serviços de limpeza urbana em grande parte dos municípios brasileiros, notadamente naqueles de médio e grande porte, baseando-se na ideia que tal terceirização oferecia melhores condições para solucionar os entraves, incluindo a agilidade para aquisição de veículos e equipamentos, contudo, não se observa, na realidade, a melhoria da qualidade dos serviços prestados.
Com a terceirização, nota-se, anos após anos, o aumento dos custos dos serviços, mantendo o lucro das empresas privadas, sendo verificada uma padronização do uso de veículos de grande porte, que por apresentarem dificuldades de acesso em determinadas áreas proporciona o lançamento irregular de resíduos por parte da população.
Em busca de evitar que o lixo continue sendo lançado sem controle nas vias públicas e terrenos baldios, as administrações de muitos municípios desenvolvem campanhas educativas, cujos resultados ainda não foram satisfatórios, por seu caráter pouco didático, que partiam do princípio da culpabilidade individual pelos problemas e não aprofundavam as deficiências das políticas públicas do setor, com mensagens como “povo limpo é povo desenvolvido”, “povo educado não joga lixo na rua” e ”olha a cara de quem joga lixo nas ruas”, a qual assemelhava as pessoas com um porco. .
Diante a continuidade da problemática do lixo, vem sendo aprovadas, nos últimos meses, leis punitivas em várias cidades brasileiras, a serem aplicadas sobre pessoas que efetuem o descarte inadequado do lixo, buscando, através de multas, diminuir a quantidade de resíduos sólidos lançados inadequadamente.
A lógica da aplicação das multas individuais pelo descarte de lixo se baseia na já referida culpabilidade individual sem aprofundamento de outras causas para o problema, incluindo a descontinuidade das ações educativas, cujos materiais produzidos geralmente são genéricos, não considerando a realidade de cada localidade, o que inibe o desenvolvimento da capacidade reflexiva das pessoas sobre o tema.
A ineficiência das ações educativas se tornam latente no tocante a reciclagem dos resíduos sólidos, apesar do discurso oficial de vários gestores sobre a importância da política dos 3 R´s (reduzir, reutilizar e reciclar), se observando, ainda,  uma contradição na prática por  parte das prefeituras que vem celebrando contratos para efetuar o transporte do lixo para aterros privatizados, cujo lucro depende da quantidade de resíduos ali depositados e que não são reaproveitados.
A falta de incentivo à implantação de programas de coleta seletiva e reciclagem representa, em muitos municípios, outro fator que favorece o descarte inadequado dos resíduos sólidos, além de não contribuir com a inclusão social dos(as) catadores(as) de materiais recicláveis, como determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos, já que essas pessoas são fundamentais para que tais programas obtenham êxito.
A situação demonstra a necessidade de serem encontradas soluções que possam proporcionar uma melhor qualidade de vida para população e menores riscos de danos ambientais com a geração de resíduos sólidos, que, acima de tudo, depende da mudança de hábitos e costumes dos seres humanos, que depende, notadamente, da redução do nível de consumismo ora existente na sociedade.