As atitudes racistas de determinadas torcidas em estádios de futebol tanto no Brasil como no exterior ocupam, nos últimos meses, espaços nos noticiários esportivos e da mídia em geral, provocando indignações generalizadas, afirmando-se que as mesmas são inaceitáveis e desonram as competições futebolísticas.
Os torcedores racistas emitem som parecido com o emitido pelos macacos, tentando causar constrangimento em jogadores negros, aos quais pretendem atingir com suas ações, como visto, recentemente, no Peru, São Paulo, chegando ao ponto de deixar bananas no automóvel de um juiz, também negro, no Rio Grande do Sul.
Esperava-se que o fim do apartheid, antigo sistema de segregação sul-africana, contribuísse para diminuir os casos de racismo mundialmente, porém, o preconceito não foi arrefecido e continua se agravando, com proporções preocupantes e que atingem as mais diversas formas do relacionamento humano, inclusive as competições esportivas, como ocorre nos estádios de futebol.
As ações racistas nos estádios não são fatos recentes, porém vem obtendo ampla divulgação pela cobertura dos eventos esportivos através de meios de comunicações e a própria internet, que impede “tampar o Sol com a peneira”, ou seja, não se discutir profundamente o problema.
A mídia defende, de modo geral, a aplicação de punições diretamente contra os responsáveis pelos atos racistas ou então sobre o clube cuja torcida tomou tal atitude, porém não faz reflexão sobre a necessidade de avaliar as causas da situação.
No cenário brasileiro, observa-se que os fatos ocorridos nos estádios de futebol expõem publicamente o racismo no país, algo que sempre foi e é negado por alguns setores da sociedade, os quais afirmam haver uma “democracia racial” no país, preconizando igualdades de direitos e deveres, independente da raça de cada pessoa.
Esses segmentos tentam passar a ideia que no Brasil só existem problemas de exclusão social, que atingem as pessoas menos favorecidas, independentes da cor da pela e não aqueles relacionados ao preconceito racial, esquecendo que a maioria absoluta dos que se encontram excluídos dentro da sociedade são afrodescendentes, ou seja, não há separação de uma questão da outra.
Os episódios nos estádios de futebol mostram que há, ainda, pessoas defensoras do processo de separação racial na sociedade brasileira, vivenciada na época da escravidão, na qual a população negra era colocada em segundo plano e tratada com raça inferior da elite branca, mantendo o abismo entre a casa grande e a senzala.
A intolerância racial observada nas partidas futebolísticas possibilita avaliar o cenário do dia a dia, no qual o preconceito se faz presente em várias ocasiões, em parte de forma disfarçada mais também de forma concreta, apesar das tentativas de discurso que existe igualdade de oportunidades, o que na prática não é concretizado.
Vê-se que a população de origem africana sofre diariamente os efeitos negativos de uma sociedade elitista que persiste em manter suas regalias, não aceitando, por exemplo, a implantação de políticas de superação das desigualdades no Brasil e, então, tendo como consequência a manutenção do preconceito e atos agressivos, como no caso do grande número de mortes de jovens negros.
Observa-se, então, que o racismo nos estádios de futebol espelha o que ocorre na sociedade, indicando que qualquer mudança da situação, só ocorrerá caso haja transformações no interior da própria sociedade, ultrapassando as barreiras do preconceito e da intolerância, praticados por determinadas pessoas, e passando a aceitar a igualdade, independente das diferenças de raça, assim como de credo, sexo, opção sexual, entre outras, evitando a continuidade da falta de respeito diante os atos de racistas.
sábado, 22 de março de 2014
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