Os movimentos e especialistas ambientalistas se contrapuseram, durante anos, a concepção que a água era um recurso natural infinito, sem a obter a adesão dos governantes e dos diversos segmentos sociais no sentido da implantação de medidas voltadas para sua utilização de forma racional.
Observou-se, então, que o ser humano utilizou os recursos hídricos sem planejamento, verificando-se um consumo exagerado e desordenado, bem como sem perspectivas para o futuro, culminando com a atual crise hídrica que atinge milhares de pessoas em várias partes do mundo, inclusive em grandes centros urbanos brasileiros, que, anteriormente, não passavam por esse problema.
O pensamento da supremacia humana reinante no mundo ocidental, decorrente do princípio que o homem pode fazer e ter tudo já que havia sido feito a imagem e semelhança de Deus, levou uma parcela dos seres humanos a manter uma relação desarmoniosa com a natureza, cujos recursos foram utilizados, historicamente, para manutenção do poder econômico e social, incluindo a questão da água, usada preferencialmente para atender os interesses dos grandes proprietários de terras e empreendimentos industriais.
Esta situação continua persistindo e atualmente no Brasil tem-se um consumo excessivo dos recursos hídrico na agropecuária e indústrias, logo as ações voltadas para uso racional da água não podem se restringir exclusivamente para as atividades domésticas e deveriam incluir os setores produtivos do campo e do meio urbano.
Os recursos hídricos continuam sendo constantemente agredidos pelo lançamento e despejo de efluentes líquidos, produtos químicos, resíduos sólidos, ou seja, por aquilo descartado pela sociedade, além de sofrer com o uso inadequado do solo, queimadas, devastação de mata ciliar e desmatamento de forma generalizada, proporcionando aceleração do processo erosivo dos recursos hídricos.
O quadro acima evidencia que as ações humanas são majoritariamente desenvolvidas de forma insustentável, acelerando os efeitos negativos do aquecimento global e a consequente diminuição do período chuvoso, causando sérios prejuízos ao ciclo hidrológico, levando a escassez de água e ocasionando estiagem em diversas regiões do planeta, entre as quais o semiárido e centros urbanos brasileiros.
Analisando as ações educativas relacionadas a ampliação da consciência sobre a importância do uso racional da água, incluindo aquelas desenvolvidas nas recentes comemorações do “Dia Mundial da Água”, verifica-se que, até o momento, os resultados positivos obtidos foram limitados, faltando um aprofundamento das causas da crise hídrica, pois tais ações geralmente se voltam diretamente para atitudes individuais, como, se desta forma, os problemas atuais dos recursos hídricos pudessem ser superados.
Com o aprofundamento citado acima, haveria oportunidade da constatação que o problema da água se encontra relacionado com o modelo de vida da sociedade, centrado no consumismo exagerado e valorização do individualismo, mazelas decorrentes de um sistema econômico globalizado e excludente.
Por outro lado, a implantação de políticas públicas de saneamento nos estados brasileiros, assim como aquelas dos demais setores, prioriza o atendimento às elites sociais, não possibilitando a democratização da oferta dos serviços, além de serem desenvolvidas gestões deficientes que chega acarretar um desperdício em torno de 37% da água tratada.
Finalizando, verifica-se que a crise hídrica vivida pela sociedade brasileira não será superada sem uma mudança das práticas usualmente utilizadas não só por parte de cada pessoa individualmente, assim como pela agropecuária, indústrias e demais setores produtivos, os quais necessitam assumir seus compromissos sociais, adotando medidas que diminuam o desperdício e a escassez de água, juntamente com a melhoria das gestões públicas de saneamento, incluindo a construção de espaços participativos e de controle social.
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