domingo, 30 de agosto de 2009

Dez anos atrás

Geralmente, fazemos uma retrospectiva dos fatos que tiveram impactos em nossas vidas lembrando de momentos e de pessoas. Neste momento, por exemplo, recordo do ano de 1999, ou seja, 10 anos atrás, onde, no segundo semestre, alguns fatos me fizeram passar por emoções fortes, com a morte de 03 pessoas que, tive a honra de conviver e que no meu entendimento, deixaram exemplos a ser seguidos por todos e todas nós.
Uma destas pessoas, que morreram em 1999, foi Dom Helder Câmara, que atuou como Arcebispo da Igreja Católica de Olinda e Recife, que, pessoalmente, tive oportunidade de estar com Dom Helder Câmara em algumas ocasiões, no período dos anos oitenta que professei a fé católica , onde era membro do grupo de jovens da Paróquia do Bairro de Campo Grande (Recife), através de reuniões do setor pastoral ou em suas homílias nas missas que celebrava.
Uma das marcas de Dom Helder Câmara era apoiar as organizações de dentro e de fora da Igreja e assim como militante do Movimento de Defesa dos Favelados e Moradores de Áreas Carentes de Pernambuco (MDF), sempre contávamos com o apoio dele em nossas ações, o que contribuiu para o fortalecimento da luta do movimento, inclusive na aquisição da sede situada na Rua da Glória, no centro de Recife.
Por toda sua obra em vida, Dom Helder Câmara é um exemplo a ser seguido por todos e todas que se autodenominam cristãos, sendo reconhecido e é reconhecido mundialmente pelo seu engajamento na luta por um mundo mais justo, defendendo os direitos inalienáveis de qualquer ser humano viver numa sociedade sem violência e sem exclusão social.
A segunda pessoa que morreu em 199, chamava-se Márcia Dragmon, uma mulher que se dedicou a militância política, vivendo parte da vida longe da família, combatendo a ditadura militar implantada no Brasil a partir de 1964. Com o final do regime militar, Márcia se engajou na organização do Coletivo Mulher Vida, organização não-governamental que atua na Região Metropolitana do Recife, objetivando garantir os direitos das mulheres, combatendo a violência praticada contra as mesmas, decorrente de uma sociedade machista.
Convivi com Márcia no Movimento Phênix, na época que se realizava trabalhos em grupo através do autoconhecimento e da teoria do espelhamento, onde cada pessoa buscava se ver a partir do incômodo que outra pessoa provocava em si, onde ela se tornou minha amiga.
Graças ao Movimento Phenix, eu, Márcia e outras pessoas que eram ou são militantes políticos puderam ver que, muitas vezes, nossa prática política é como castelos de areias, que, rapidamente, a onda da praia vem e derruba, observando-se que a briga simplesmente pelo poder é totalmente insignificante na militância política, havendo, portanto, necessidade de se ter uma militância centrada em objetivos sólidos, vendo erros e virtudes nas outras pessoas, mesmo que não comunguem com nossas idéias e pensamentos.
A terceira morte que citada acima foi de Carlos Eduardo da Solva Monteiro, que conheci na adolescência como colega de sala de aula na Escola Técnica Federal de Pernambuco e que se transformou em um grande amigo, sendo, inclusive, padrinho de meu casamento com Dálete em 1991.
Carlos foi outra pessoa que dedicou a vida na construção de um mundo mais justo, devendo lembrar sua participação na reorganização das entidades do movimento estudantil na Universidade Federal Rural de Pernambuco na década de oitenta e sua contribuição para organização do PT em Pernambuco, sendo importante afirmar que apesar de sermos amigos, nunca convivemos em uma mesma tendência política interna do Partido.
Como representante da OXFAM no Brasil, uma fundação inglesa que prestava assistência social em países do terceiro mundo, Carlos mostrou seu engajamento e compromisso, contribuindo com a organização de diversas entidades sociais, na época que a sociedade civil se reorganizava no país após longos anos do regime militar.
Bem para não só falar em morte, lembro que, em dezembro de 1999, tive o prazer do nascimento de Rani, minha filha, que junto com Caio, nascido em 1993, tornou-se minha dupla de filhos, onde espero que os dois juntamente com os demais adolescentes e crianças de suas gerações possam conhecer exemplos de pessoas como as citadas acima e que no mundo todo contribuíram e vem contribuindo para se ter uma sociedade mais justa e fraterna e, aí, quem sabe isto não se tornará realidade?

Um comentário:

  1. Ademir,
    é uma honra para mim poder compartilhar um pouco da sua vida e de sua família...
    Temos trajetória de vida muito parecidas e em consequencia os mesmos referenciais .
    Tamos aí !!!

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