quarta-feira, 24 de março de 2010

O uso da água

A ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu, em 1992, que o dia 22 de março seria reservado para celebração do “Dia Mundial da Água”, buscando despertar a consciência da humanidade para a problemática da questão dos recursos hídricos e, no caso do Brasil, o Congresso Nacional definiu, no ano seguinte, que, na referida data deveria, ser celebrado também o “Dia Nacional da Água”.
Observa-se a cada ano, a partir de então, a realização de atividades relacionadas ao Dia em diversas partes do mundo, e, atualmente, os eventos extrapolam a único dia, sendo realizada a “Semana da Água”, envolvendo segmentos da sociedade, como escolas, associações, entidades religiosas e órgãos públicos, entre outros.
Apesar da celebração anual ocorrida no dia 22 de março e as atividades de toda “Semana da Água”, observamos a situação alarmante no tocante aos recursos hídricos em âmbito mundial, devido às agressões decorrentes das ações humanas, ocasionando prejuízos para saúde pública e para o meio ambiente, comprovando a necessidade de ações permanentes sobre a questão da água.
Verifica-se que o ser humano demonstra não reconhecer a importância dos recursos hídricos para manutenção da própria espécie no planeta, já que não há sobrevivência humana sem água potável, o que a ONU apresentou no Artigo 5º da “Declaração Universal dos Direitos da Água”, aprovada em 1992, onde se lê: “A água não é somente uma herança dos nossos predecessores, ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras”.
Em 1854, o cacique indígena Seatle enviou uma carta ao Presidente dos Estados Unidos, que desejava comprar as terras de seu povo, onde em um trecho se lê: “Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendemos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também, E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicam a qualquer irmão”, logicamente, chegamos a conclusão que este ensinamento não foi e não vem sendo seguido, visto a situação de poluição e contaminação dos rios e os demais cursos de água, onde não podemos afirmar que o ser humano mantêm uma relação de irmandade com os mesmos.
A ação humana vem prejudicando ciclo natural da água, pois os recursos hídricos utilizados não são devolvidos adequadamente a natureza, devido ao desperdiço, desmatamento, solo impermeabilizado, queimadas, uso de agrotóxicos, disposição inadequada de resíduos sólidos, lançamento de esgoto sanitário e de efluentes industriais, apesar da existência de diversas legislações de proteção dos recursos hídricos e da indicação do Artigo 7º da referida Declaração da ONU que afirma: “A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente poluídas”.
A população mais pobre é a que mais sofre os efeitos negativos dos danos provocados sobre os recursos hídricos nos centros urbanos e na área rural, diante a utilização de água que não recebeo devido tratamento e pela própria escassez do líquido, provocando a disseminação de doenças e elevado índice de mortes, principalmente de crianças.
Compreendo que apesar do quadro acima, existem esperanças que a situação seja revertida, que passa pela elevação do nível de consciência da população, através de ações regulares voltadas para a problemática da água, onde a escola tem uma função primordial, envolvendo o corpo estudantil em ações voltadas para mudanças de hábitos e costumes e na defesa da preservação dos recursos hídricos.
A mudança da situação passa, também, pelo envolvimento dos segmentos sociais na discussão de questões relacionadas a água, garantindo a participação popular e o controle social sobre o tema, que,certamente, possibilitará a consolidação de direitos e deveres individuais e coletivos sobre o uso da água.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Blog de Ademir Damião: Os desafios da questão do lixo

Blog de Ademir Damião: Os desafios da questão do lixo

Os desafios da questão do lixo


A questão do lixo é, na atualidade, um dos maiores desafios para gestão de qualquer cidade, diante da necessidade de um gerenciamento adequado de sua origem até o destino final, passando pela coleta, armazenamento, transporte e tratamento, buscando evitar danos ao meio ambiente e a saúde pública.  
A análise histórica aponta que esta situação decorreu da constituição das vilas e, posteriormente, das cidades, onde a geração concentrada de uma maior quantidade de lixo, que, tecnicamente, é denominado de resíduos sólidos, sem que houvesse um tratamento e/ou destino final, ocasionando a proliferação de doenças que provocaram a morte de milhares de pessoas em todo planeta.
Observa-se, ainda, que as características do lixo vêem sofrendo alterações ao longo do tempo, conforme hábitos e costumes da população, chegando ao presente estágio, onde grande parte é constituída de produtos descartáveis e recicláveis, quando, anteriormente, sua composição era, na maior parte, de matéria orgânica, como restos de comida.
Na conjuntura atual, o modelo de desenvolvimento implantado em esfera mundial ocasiona o uso excessivo dos recursos naturais para produção de bens de consumo para satisfação das camadas privilegiadas, mantendo um elevado nível de pobreza e miséria, com uma concentração de renda em poder de uma minoria da humanidade.
Este padrão de consumo vigente provoca o crescimento da produção de resíduos sólidos,tamento,quado da geração, passando pela coleta, transporte  acrescido de seu manejo inadequado, diante da  ausência de uma política eficaz voltada para a reciclagem dos materiais reaproveitáveis, ocasionam  os danos decorrentes da disposição inadequada do lixo.
Neste sentido, é fundamental a implantação de ações de educação ambiental, que devem ser constituídas de linguagem e instrumentos acessíveis pela população envolvida, buscando ampliar a consciência sócio-ambiental e provocar mudanças na forma de agir.  
Entendo que qualquer política de reciclagem só obterá resultados satisfatórios, se ocorrer a separação dos resíduos sólidos na origem, que, no caso do lixo urbano (domiciliar e comercial), depende de um programa de coleta seletiva, tendo a participação e envolvimento dos catadores e catadoras de materiais recicláveis.
Esta participação e envolvimento dependem de uma ação de inclusão social dos catadores e das catadoras, oferecendo condições operacionais e sociais para suas atividades e incentivando a organização da categoria, conforme previsto na proposta da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada recentemente na Câmara dos Deputados.
A Política deverá passar por nova votação no Senado Federal para posterior sanção do Presidente da República e objetiva regulamentar a questão dos resíduos sólidos, indicando responsabilidade de entes como governos, empresas e a população de modo geral.
É importante salientar que apesar de encontrar tramitando por 19 anos no Congresso Nacional, a proposta da Política Nacional de Resíduos Sólidos não é do conhecimento da maioria da sociedade brasileira, demonstrando a necessidade de sua ampla divulgação, caso realmente, ela venha ser aprovada e sancionada, pois do contrário se tornará  uma lei morta como outras existentes no Brasil.
Compreendo que a sustentabilidade das ações relacionadas ao lixo só será garantida com o exercício pleno da cidadania, fortalecendo a participação popular e controle social, elementos fundamentais na implantação de programas e políticas de qualquer esfera, incluindo a questão dos resíduos sólidos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Blog de Ademir Damião: 08 de março: Origem socialista

Blog de Ademir Damião: 08 de março: Origem socialista

08 de março: Origem socialista

Amigas e amigos:
A origem do dia 08 de março como “Dia Internacional das Mulheres” tem algumas versões diferentes.
Neste sentido, estou postando um texto que recebi do companheiro Dionízio Valois, que merece nossa leitura, visando o conhecimento de outra versão histórica sobre a origem deste dia tão importante para mulheres e homens, que querem um mundo mais justo e fraterno. Como o texto é longo, merece uma leitura como calma, para que as idéias expostas possam ser compreendidas.

08 de março: As mulheres faziam parte das "classes perigosas"
Eva Alterman Blay - Revista de Estudos Feministas (vol. 9)

O dia 8 de março é dedicado à comemoração do Dia Internacional da Mulher. Atualmente tornou-se uma data um tanto festiva, com flores e bombons para uns. Para outros é relembrada sua origem marcada por fortes movimentos de reivindicação política, trabalhista, greves, passeatas e muita perseguição policial. A data foi uma proposta de Clara Zetkin (foto), membro do Partido Comunista Alemão, deputada em 1920, que militava junto ao movimento operário e se dedicava à conscientização feminina. O artigo é de Eva Alterman Blay. No século XIX e no início do XX, nos países que se industrializavam, o trabalho fabril era realizado por homens, mulheres e crianças, em jornadas de 12, 14 horas, em semanas de seis dias inteiros e freqüentemente incluindo as manhãs de domingo. Os salários eram de fome, havia terríveis condições nos locais da produção e os proprietários tratavam as reivindicações dos trabalhadores como uma afronta, operárias e operários considerados como as "classes perigosas"

Sucediam-se as manifestações de trabalhadores, por melhores salários, pela redução das jornadas e pela proibição do trabalho infantil. A cada conquista, o movimento operário iniciava outra fase de reivindicações, mas em nenhum momento, até por volta de 1960, a luta sindical teve o objetivo de que homens e mulheres recebessem salários iguais, pelas mesmas tarefas. As trabalhadoras participavam das lutas gerais mas, quando se tratava da igualdade salarial, não eram consideradas. Alegava-se que as demandas das mulheres afetariam a "luta geral", prejudicariam o salário dos homens e, afinal, as mulheres apenas "completavam" o salário masculino.

Subjacente aos grandes movimentos sindicais e políticos emergiam outros, construtores de uma nova consciência do papel da mulher como trabalhadora e cidadã. Clara Zetkin, Alexandra Kollontai, Clara Lemlich,Emma Goldman, Simone Weil e outras militantes dedicaram suas vidas ao que posteriormente se tornou o movimento feminista.

Clara Zetkin propôs o Dia Internacional da Mulher

Clara Zetkin (1857-1933), alemã, membro do Partido Comunista Alemão, deputada em 1920, militava junto ao movimento operário e se dedicava à conscientização feminina. Fundou e dirigiu a revista "Igualdade", que durou 16 anos (1891-1907).

Líderes do movimento comunista como Clara Zetkin e Alexandra Kollontai, ou anarquistas como Emma Goldman, lutavam pelos direitos das mulheres trabalhadoras, mas o direito ao voto as dividia: Emma Goldman afirmava que o direito ao voto não alteraria a condição feminina se a mulher não modificasse sua própria consciência.

Ao participar do II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagem, em 1910, Clara Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher sem definir uma data precisa. Contudo, vê-se erroneamente afirmado no Brasil e em alguns países da América Latina que Clara teria proposto o 8 de Março para lembrar operárias mortas num incêndio em Nova Iorque em 1857. Os dados a seguir demonstram que os fatos se passaram de maneira diferente.

O movimento operário nos Estados Unidos

Assim como na Europa, era intenso o movimento trabalhador nos Estados Unidos desde a segunda metade do século XIX, sobretudo nos setores da produção mineira e ferroviária e no de tecelagem e vestuário.

A emergente economia industrial norte-americana, muito instável, era marcada por crises. Nesse contexto, em 1903 formou-se, pela ação de sufragistas e de profissionais liberais, a Women's Trade Union Leaguepara organizar trabalhadoras assalariadas. Com as crises industriais de 1907 e 1909 reduziu-se o salário dos trabalhadores, e a oferta de mão-de-obra era imensa, dada a numerosa imigração proveniente da Europa. Grande parte dos operários e operárias era de imigrantes judeus, muitos com um passado de militância política.

No último domingo de fevereiro de 1908, mulheres socialistas dos Estados Unidos fizeram uma manifestação a que chamaram Dia da Mulher, reivindicando o direito ao voto e melhores condições de trabalho. No ano seguinte, em Manhatan, o Dia da Mulher reuniu 2 mil pessoas.

Problemas muito conhecidos do operariado latino-americano impeliam trabalhadores e trabalhadoras a aderir às manifestações públicas por salários e pela redução do horário de trabalho. Embora o setor industrial tivesse algumas grandes empresas, predominavam as pequenas, o que dificultava a agregação e unicidade das reivindicações. O movimento por uma organização sindical era intenso e liderado no setor de confecções e vestuário por trabalhadores judeus com experiência política sindical, especialmente da União Geral dos Trabalhadores Judeus da Rússia e da Polônia (Der Alguemayner Yiddisher Arbeterbund in Russland un Poyln - BUND).

Para desmobilizar o apelo das organizações e controlar a permanência dos trabalhadores/as, muitas fábricas trancavam as portas dos estabelecimentos durante o expediente, cobriam os relógios e controlavam a ida aos banheiros. Mas as difíceis condições de vida e os baixíssimos salários eram forte incentivo para a presença de operários e operárias nas manifestações em locais fechados ou na rua.

Uma das fábricas, a Triangle Shirtwaist Company (Companhia de Blusas Triângulo), para se contrapor à organização da categoria, criou um sindicato interno para seus trabalhadores/as. Em outra fábrica, algumas trabalhadoras que reclamavam contra as condições de trabalho e salário foram despedidas e pediram apoio ao United Hebrew Trade, Associação de Trabalhadores Hebreus. Então as trabalhadoras da Triangle quiseram retirar alguns recursos do sindicato interno para ajudar as companheiras mas não o conseguiram. Fizeram piquetes na porta da Triangle, que contratou prostitutas para se misturarem às manifestantes, pensando assim dissuadi-las de seus propósitos. Ao contrário, o movimento se fortaleceu.

Uma greve geral começou a ser considerada pelo presidente da Associação dos Trabalhadores Hebreus, Bernardo Weinstein, sempre com o objetivo de melhorar as condições de trabalho da indústria de roupas. A idéia se espalhou e, em 22 de novembro de 1909, organizou-se uma grande reunião na Associação dos Tanoeiros liderada por Benjamin Feigenbaum e pelo Forward.
A situação era extremamente tensa e, durante a reunião, subitamente uma adolescente, baixa, magra, se levantou e pediu a palavra: "Estou cansada de ouvir oradores falarem em termos gerais. Estamos aqui para decidir se entramos em greve ou não. Proponho que seja declarada uma greve geral agora!". A platéia apoiou de pé a moção da jovem Clara Lemlich.

Política e etnia

No movimento dos trabalhadores as relações étnicas tinham peso fundamental, razão pela qual, para garantir um compromisso com a greve, Feigenbaum usou um argumento de extraordinária importância religiosa para os judeus. Ele perguntou à assembléia: "Vocês se comprometerão com o velho mandamento judaico?" Uma centena de mãos se ergueram e todos gritaram: "Se eu esquecer de vós, ó Jerusalém, que eu perca minha mão direita". Era um juramento de que não furariam a greve.

Cerca de 15 mil trabalhadores do vestuário, a maioria moças, entraram em greve, provocando o fechamento de mais de 500 fábricas. Jovens operárias italianas aderiram, houve prisões, tentativas de contratar novas trabalhadoras, o que tornou o clima muito tenso. A direção da greve ficou com a Associação dos Trabalhadores Hebreus e com o Sindicato Internacional de Trabalhadores na Confecção de Roupas de Senhoras International Ladies' Garment Workers' Union - ILGWU).

À medida que as grandes empresas cederam algumas reivindicações, a greve foi se esvaziando e se encerrou em 15 de fevereiro de 1910 depoisde 13 semanas.

O incêndio

Pouco tinha sido alterado, sobretudo nas fábricas de pequeno e médio porte, e os movimentos reivindicatórios retornaram. A reação dos proprietários repetia-se: portas fechadas durante o expediente, relógios cobertos, controle total, baixíssimos salários, longas jornadas de trabalho.

O dia 25 de março de 1911 era um sábado, e às 5 horas da tarde, quando todos trabalhavam, irrompeu um grande incêndio na Triangle Shirtwaist Company, que se localizava na esquina da Rua Greene com a Washington Place. A Triangle ocupava os três últimos de um prédio de dez andares. O chão e as divisórias eram de madeira, havia grande quantidade de tecidos e retalhos, e a instalação elétrica era precária. Na hora do incêndio, algumas portas da fábrica estavam fechadas. Tudo contribuía para que o fogo se propagasse rapidamente.

A Triangle empregava 600 trabalhadores e trabalhadoras, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, jovens de 13 a 23 anos. Fugindo do fogo, parte das trabalhadoras conseguiu alcançar as escadas e desceu para a rua ou subiu para o telhado. Outras desceram pelo elevador. Mas a fumaça e o fogo se expandiram e trabalhadores/as pularam pelas janelas, para a morte. Outras morreram nas próprias máquinas. O Forward publicou terríveis depoimentos de testemunhas e muitas fotos.

Morreram 146 pessoas, 125 mulheres e 21 homens, na maioria judeus.

A comoção foi imensa. No dia 5 de abril houve um grande funeral coletivo que se transformou numa demonstração trabalhadora. Apesar da chuva, cerca de 100 mil pessoas acompanharam o enterro pelas ruas do Lower East Side. No Cooper Union falou Morris Hillquit e no Metropolitan Opera House, o rabino reformista Stephen Wise.

A tragédia teve conseqüências para as condições de segurança no trabalho e sobretudo serviu para fortalecer o ILGWU.

Para autores como Sanders, todo o processo, desde a greve de 1909, mais o drama do incêndio da Triangle, acabou fortalecendo o reconhecimento dos sindicatos. O ILGWU, de conotação socialista e um dos braços mais 'radicais' do American Federation of Labour (AFL), se tornou o maior e mais forte dos Estados Unidos naquele momento.

Atualmente no local onde se deu o incêndio foi construída a Universidade de Nova Iorque. Uma placa, lembrando o terrível episódio, foi lá colocada:

"Neste lugar, em 25 de março de 1911, 146 trabalhadores perderam suas vidas no incêndio da Companhia de Blusas Triangle. Deste martírio resultaram novos conceitos de responsabilidade social e legislação do trabalho que ajudaram a tornar as condições de trabalho as melhores do mundo."(ILGWU)

Mulheres e movimentos sociais

No século XX, as mulheres trabalhadoras continuaram a se manifestar em várias partes do mundo: Nova Iorque, Berlim, Viena (1911); São Petersburgo (1913). Causas e datas variavam. Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Cristiana, perto de Oslo, contra a guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin faz uma conferência sobre a mulher. Em 8 de março 1917 (23 de fevereiro no Calendário Juliano), trabalhadoras russas do setor de tecelagem entraram em greve e pediram apoio aos metalúrgicos. Para Trotski esta teria sido uma greve espontânea, não organizada, e teria sido o primeiro momento da Revolução de Outubro.

Na década de 60, o 8 de Março foi sendo constantemente escolhido como o dia comemorativo da mulher e se consagrou nas décadas seguintes. Certamente esta escolha não ocorreu em conseqüência do incêndio na Triangle, embora este fato tenha se somado à sucessão de enormes problemas das trabalhadoras em seus  locais de trabalho, na vida sindical e nas perseguições decorrentes de justas reivindicações.

Lenin: o que importava era a política de massas e não o direito das mulheres
Mulheres e homens jovens tinham muitas outras preocupações além das questões trabalhistas e do sistema político. Nem sempre a liderança comunista entendia essas necessidades, como foi o caso de Lenin e de muitos outros líderes. Em seu Diário, Clara Zetkin relata o que ouvira do camarada e amigo Lenin, ao visitá-lo no Kremlin, em 1920. Lenin lamentava o descaso pelo Dia Internacional da Mulher que ela propusera em Copenhagem, pois este teria sido um oportuno momento para se criar um movimento de 'massa', internacionalizar os propósitos da Revolução de 17, agitar mulheres e jovens. Para alcançar este objetivo, afirmava ele, era necessário discutir exclusivamente os problemas políticos e não perder tempo com aquelas discussões que os jovens trabalhadores traziam para os grupos políticos, como casamento e sexo. Lenin estendia suas críticas ao trabalho de Rosa Luxemburgo com prostitutas: "Será que Rosa Luxemburgo não encontrava trabalhadores para discutir, era necessário buscar as prostitutas?"

Esta visão de Lenin fez escola na esquerda. A experiência do 'amor livre' nos primeiros anos pós-Revolução trouxe enormes conflitos que levaram à restauração do sistema de família regulamentado pelo contrato civil. Temas relativos ao corpo, à sexualidade, à reprodução humana, relação afetiva entre homens e mulheres, aborto, só foram retomados 40 anos mais tarde pelo movimento feminista.

O 8 de Março no Brasil

No Brasil vê-se repetir a cada ano a associação entre o Dia Internacional da Mulher e o incêndio na Triangle quando na verdade Clara Zetkin o tenha proposto em 1910, um ano antes do incêndio. É muito provável que o sacrifício das trabalhadoras da Triangle tenha se incorporado ao imaginário coletivo da luta das mulheres. Mas o processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias há algum tempo e foi ratificado com a proposta de Clara Zetkin.

Nas primeiras décadas do século XX, o grande tema político foi a reivindicação do direito ao voto feminino. Berta Lutz, a grande líder sufragista brasileira, aglutinou um grupo de mulheres da burguesia para divulgar a demanda. Ousadas, espalharam de avião panfletos sobre o Rio de Janeiro, pedindo o voto feminino, no início dos anos 20!

Pressionaram deputados federais e senadores e se dirigiram ao presidente Getúlio Vargas. Afinal, o direito ao voto feminino foi concedido em 1933 por ele e garantido na Constituição de 1934. Mas só veio a ser posto em prática com a queda da ditadura getulista, e as mulheres brasileiras votaram pela primeira vez em 1945.

Em 1901, as operárias, que juntamente com as crianças constituíam 72,74% da mão-de-obra do setor têxtil, denunciavam que ganhavam muito menos do que os homens e faziam a mesma tarefa, trabalhavam de 12 a 14 horas na fábrica e muitas ainda trabalhavam como costureiras, em casa. Como mostra Rago, a jornada era de umas 18 horas e as operárias eram consideradas incapazes física e intelectualmente. Por medo de serem despedidas, submetiam-se também à exploração sexual.

Os jornais operários, especialmente os anarquistas, reproduziam suas reclamações contra a falta de higiene nas fábricas, o assédio sexual, as péssimas condições de trabalho, a falta de pagamento de horas extras, um sem número de abusos. Para os militantes operários, a fábrica era um local onde as mulheres facilmente se prostituíam, daí reivindicarem a volta das mulheres para casa. Patrões, chefes e empregados partilhavam dos mesmos valores: olhavam as trabalhadoras como prostitutas.

Entre as militantes das classes mais altas, a desqualificação do operariado feminino não era muito diferente: partilhavam a imagem generalizada de que operárias eram mulheres ignorantes e incapazes de produzir alguma forma de manifestação cultural. A distância entre as duas camadas sociais impedia que as militantes burguesas conhecessem a produção cultural de anarquistas como Isabel Cerruti e Matilde Magrassi, ou o desempenho de Maria Valverde em teatros populares como o de Arthur Azevedo .

Como as anarquistas americanas e européias, as brasileiras (imigrantes ou não) defendiam a luta de classes mas também o divórcio e o amor livre, como escrevia "A Voz do Trabalhador" de 1° de fevereiro de 1915:

"Num mundo em que mulheres e homens desfrutassem de condições de igualdade... Vivem juntos porque se querem, se estimam no mais puro,belo e desinteressado sentimento de amor".

A distinção entre anarquistas e comunistas foi fatal para uma eventual aliança: enquanto as comunistas lutavam pela implantação da "ditadura do proletariado", as anarquistas acreditavam que o sistema partidário reproduziria as relações de poder, social e sexualmente hierarquizadas.

No PC a diferenciação de gênero continuava marcante: as mulheres se encarregavam das tarefas 'femininas' na vida quotidiana do Partido. Extremamente ativas, desenvolveram ações externas de organização sem ocupar qualquer cargo importante na hierarquia partidária. Atuavam, por exemplo, junto a crianças das favelas ou dos cortiços, organizavam colônias de férias, supondo que poderiam ensinar às crianças novos valores.

Zuleika Alembert, a primeira mulher a fazer parte da alta hierarquia do PC, eleita deputada estadual por São Paulo em 1945, foi expulsa do Partido quando fez críticas feministas denunciando a sujeição da mulher em seu próprio partido.

O feminismo dos anos 60 e 70 veio abalar a hierarquia de gênero dentro da esquerda. A luta das mulheres contra a ditadura de 1964 uniu, provisoriamente, as feministas e as que se autodenominavam membros do 'movimento de mulheres'. A uni-las, contra os militares, havia uma data: o 8 de Março. A comemoração ocorria através da luta pelo retorno da democracia, de denúncias sobre prisões arbitrárias, desaparecimentos políticos.

A consagração do direito de manifestação pública veio com o apoio internacional - a ONU instituiu, em 1975, o 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher.

Entrou-se numa nova etapa do feminismo. Mas velhos preconceitos permaneceram nas entrelinhas. Um deles talvez seja a confusa história propalada do 8 de Março, em que um anti-americanismo apagava a luta de tantas mulheres, obscurecendo até mesmo suas origens étnicas.

domingo, 7 de março de 2010

Blog de Ademir Damião: 08 de março

Blog de Ademir Damião: 08 de março

08 de março


Em uma conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, no ano de 1910, foi instituído “O Dia Internacional das Mulheres” a ser comemorado, anualmente, no dia 08 de março, homenageando um grupo de 130 trabalhadoras de indústrias têxtil que foram mortas devido ao incêndio criminoso de uma fábrica em Nova York, onde as mesmas ficaram presas devido a repressão de patrões e da polícia durante uma greve conduzida por mulheres, que exigiam redução da jornada de trabalho e igualdade salarial aos homens.
Durante estes 100 anos de comemoração do dia 08 de março, as mulheres vêem buscando fortalecer sua luta por uma vida com dignidade, visando ampliar seus direitos sociais e políticos, no combate ao preconceito e na busca de uma sociedade mais justa e humana.
Compreendo que a data tem um caráter especial, pois além de homenagear as trabalhadoras mortas nos Estados Unidos, as organizações das mulheres vão para ruas na luta por um mundo igualitário com os homens, denunciando as formas de exploração e de violência que sofrem em diversas partes do mundo.
Com as mulheres conquistando cada vez mais espaços na sociedade, se observa a necessidade de derrubar as barreiras de discriminações ainda existentes entre nós, logo os atos do dia 08 de março possuem, também, o papel educativo de mudar as mentes das pessoas, tanto das mulheres como dos homens, visando à equidade na relação de gênero, ainda tão distante entre nós.
O processo discriminante contra as mulheres no ambiente trabalho é apontado em diversos estudos ou pesquisas, mostrando que além da desigualdade salarial, elas possuem menores oportunidades de crescimento dentro da estrutura das empresas, e, em poucos casos, ocupam postos hierárquicos de grande importância.
Não podemos esquecer que a maioria das mulheres continuam sendo submetidas a dupla jornada de trabalho, tendo que assumir as tarefas domésticas por falta de apoio de seus companheiros ou por terem que assumir isoladamente a chefia da família.
As mulheres continuam passando por preconceitos culturais e sociais, que para as negras representa uma dupla discriminação em nosso país devido às questões raciais e de gênero, salientando que as mulheres afro-brasileiras sofrem limitações para conquista de emprego, mesmo aquelas que possuem níveis elevados de escolaridade.
Diariamente, as mulheres vêem lutando por seus direitos e o dia 08 de março significa um momento de reflexão sobre a necessidade de mudança urgente nas relações sociais no Brasil e no restante do mundo, buscando a superação da exploração e opressão de uma sociedade capitalista e machista.
Entendo que a luta das mulheres é também de todos nós, homens que acreditam na construção de uma sociedade mais justa e humana, que não será constituída sem a extinção de todas as formas de discriminações que existam entre nós.
Finalizo, deixando aqui uma homenagem especial para as mulheres que dedicaram suas vidas  na luta por um mundo igualitário e sem injustiças, saudando aquelas que continuam carregando esta bandeira por uma sociedade igualitária em diversas frentes, como família, escola, trabalho, contribuindo no processo de organização da classe trabalhadora nos sindicatos, movimentos e organizações populares do Brasil e do restante do mundo.