domingo, 4 de julho de 2010

A Copa e o amor à Pátria

Na época que participei do grupo jovem da Paróquia do Bairro de Campo Grande (Recife), ouvi um sermão na Semana da Pátria, no qual o padre falava sobre patriotismo e, na ocasião, ele contou a história de um marinheiro que ao ver o navio se afundando, procurou salvar a bandeira do País, sendo, posteriormente, homenageado como um “herói nacional”.
Em sua homília, o padre procurou mostrar que aquele marinheiro precisava ser informado sobre o verdadeiro sentido de Pátria, que não se encontraria resumido em uma bandeira ou em qualquer outro símbolo e, sim, na situação que vive a maioria do povo, que deveria ter condições para viver de forma satisfatória.
Lembrei-me do sermão, após a derrota da seleção brasileira para holandesa na Copa da África do Sul, quando vi pela televisão muitas pessoas chorando copiosamente com a nossa desclassificação no Mundial, como se o Brasil tivesse passando por uma catástrofe insuperável, o que de fato não aconteceu.
Compreendo que o amor à Pátria não se resume só em sofrer com uma desclassificação na Copa do Mundo, mas, necessita ser construído no dia a dia, aonde há necessidade do envolvimento no combate das mazelas aqui existentes, decorrentes de uma sociedade cujo alicerce é a exploração capitalista, a qual leva a formação de grupos de incluídos e excluídos sociais.
Verifica-se que a mídia enaltece um patriotismo exagerado no período de competições, como na Copa do Mundo, levando parte da população a tomarem atitudes emocionais, não vistas em assuntos de maior relevância, possibilitando que muitos problemas se perpetuem historicamente entre nós.
Logicamente que aqui não estou defendendo que não se deva torcer pela seleção brasileira, porém compreendo que se torna necessário ultrapassar o ufanismo que “somos sempre insuperáveis”, o que não condiz com a realidade em muitas ocasiões, como na Copa da África do Sul, levando parte da população ao desânimo e decepção em casos de derrotas.
É preciso lembrar que a idéia da “Pátria sobre chuteiras” vem do período autoritário, aonde se buscava utilizar o futebol para esconder os problemas enfrentados pelo povo, incluindo a perseguição aos opositores do sistema e tentando passar a imagem de que o Brasil era um país forte e unido, que vivia em um “mar de rosas”.
Caso a mobilização observada nos dias de jogo da seleção brasileira, inclusive com grande quantidade de pessoas vestindo verde e amarelo, ocorresse em outros momentos, muitas questões deste País já teriam tido, há muito tempo, outros encaminhamentos e, certamente, estaríamos vivendo em um país com melhor qualidade de vida, pois no dia a dia, se vê que muitas pessoas aguardam soluções dos governantes, naquilo que a sociedade deveria buscar realizar através de sua própria organização para mudar a realidade que vivemos.
A mobilização e disponibilidade popular vistas no período de mundiais não correm, por exemplo, de forma semelhante para as ações desenvolvidas por sindicatos e movimentos sociais, dificultando o processo de organização social na busca de alternativas sustentáveis para uma sociedade mais justa e fraterna nos aspectos social, econômico, ambiental, político, entre outros.
Entendo que a mobilização popular é fundamental para que consigamos superar definitivamente os problemas que nos afligem e cujas soluções só se viabilizará com o envolvimento da população, buscando garantir a construção de um processo democrático, que não se restringe ao direito de votar e ser votado no período eleitoral, mas deve possibilitar a existência de canais efetivos de participação nas diversas esferas de governo.
Diante deste quadro, compreendo que cabe a cada um ou uma de nós dá sua contribuição para que seja ampliado o grau de participação das demais pessoas nas questões que permeiam a nossa vida, mostrando que se é importante demonstrar o amor à Pátria no período de Copa do Mundo, mas importante ainda é se envolver na transformação da sociedade brasileira ultrapassando as barreiras que impedem a igualdade de direitos e oportunidades para todos.

3 comentários:

  1. Tá certíssimo, Ademir. É preciso torcer pelo Brasil, no esporte, mas também em política. Não deixar que a paixão do esporte nos cegue para os outros problemas que precisam da nossa atenção. Ainda mais em ano eleitoral.
    Abraço, Gentil.

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  2. "(...)utilizar o futebol para esconder os problemas enfrentados pelo povo(...)" Na época era obrigação a seleção ser a melhor, pra amenizar os ânimos. Hoje, qual a motivação dela pra continuar sendo a Top de linha? Talvez por isso tenha apresentado uma campanha medíocre nas copas. Sobram cifras no bolso pra encher a barrigam, mas tavez falta o orgulho em defender a camisa canarinha. Milah-GFA

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  3. Sempre pensei, que a unidade do povo seria mais important.. do que ser uma simples torcida de copa do mundo. Se o povo brasileiro soubesse como as outrs naçoes fora do Brasiol. nos admiram e nos valorizam. Porem temos uma desigualdade imensas em nosso pais, problemas cronicros, como drogas, violencia,desnivel gritante social. Bem, estou tentando fazer minha parte. Espero algum dia poder ajudar ao meu pais. Sou evangelico e oro por nosso pais.Muitos destes jogadores sao milionarios, que si esquecem de investir, no BRASIL. BEM, creio que o nosso DEUS NOS ABENCOARA ALGUM DIA NO FUTURO COM NOSSA UNIDADE ..NAO CÇSO COMO TORCIDA...Sosthenes - em viagem Chile - Amerioca do sul. Abraços Ademir.

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