sábado, 3 de outubro de 2015
Intolerância: risco para democracia...
Em
uma propaganda antiga de determinada marca de tinta, um locutor perguntava: “O
que seria do azul se todos gostassem do amarelo?” , e apesar do apelo
comercial, tal pergunta contribui com uma reflexão fundamental nos dias de hoje
no seio da sociedade brasileira: “Que sociedade seria construída se as pessoas
tivessem as mesmas ideias e os mesmos objetivos?”
Naturalmente
a indagação acima não poderá ser respondida na prática, pois a sociedade
brasileira, acima como a mundial, é plural e diversificada, havendo variados
processos de comportamentos e opiniões conforme as características e opções das
pessoas, constituindo-se um mosaico
social enriquecido pelas interfaces decorrentes das trocas de mútuos
relacionamentos.
Neste
contexto, as pessoas buscam ocupar espaços e consolidar seus pensamentos que, em algumas
oportunidades, são opostos de outros indivíduos, havendo a necessidade da
definição dos rumos da sociedade, cuja decisão deveria se basear na garantia de
ganhos e perdas que evitasse o aceleramento de conflitos, porém tal situação
não ocorre no dia a dia, culminando com tentativas da destruição das ideias contrárias a certos grupos ou pessoas.
Vive-se,
então, um momento no Brasil (e em todo
mundo) que é fundamental analisar a
forma de defesa individual ou coletiva de algumas ideias, que são carregadas de
atitudes intolerantes, não se aceitando o contraditório tão importante no
âmbito da pluralidade e diversidade da sociedade, chegando até a atos violentos e agressões
físicas.
Esta
situação alarmante demonstra que, na realidade, algumas pessoas e organizações tentam
impor suas ideias autoritariamente, querendo impedir qualquer forma visão
diferenciada seja apresentada, ou seja, não aceitam que ocorra um debate que
possibilite condições para o convencimento de outros segmentos sociais.
A
intolerância no Brasil vem se tornando preocupante, pois além de ser observada
nas diversas esferas de relacionamento, vem se expandindo em todas classes sociais,
bem como é uma prática usual de pessoas em diversas faixas etárias, incluindo crianças
e adolescentes que recebem “educação” de adultos (tanto no âmbito da família como na escola) voltada para não aceitar e
combater tudo que foge aos padrões estabelecidos no meio de suas
convivências.
O
processo ainda incipiente de reconstrução da democracia brasileira decorrente
do fim do regime militar necessita combater qualquer ato de intolerância para
sua verdadeira consolidação, o que se encontra condicionada a superação de
barreiras como preconceito social, religioso, machismo, homofobia, racismo e
outras que atingem diariamente o país.
É
importante observar que além da família e escola, outro agente multiplicador de ideologias de
intolerância são os meios de comunicações sociais ao divulgarem ideias
preconceituosas sem autocrítica, se escondendo na “liberdade de imprensa” e no “direito
de expressão”, o que pode ser notado em noticiários sobre a violência, programas
de auditório, novelas e debates.
O
atual momento político brasileiro vem aumentando o grau de intolerância na sociedade, já que as concepções políticas partidárias são
defendidas sem manutenção de um mínimo de respeito nas relações, criando riscos
sérios para a democracia brasileira, não havendo reconhecimento de ações e
propostas positivas em grupos adversários.
A
constituição urgente de canais de tolerância irá possibilitar a reversão do
quadro descrito anteriormente, aceitando-se que as diferenças de opções de possam
conviver em todas esferas sociais sem que ocorra atitudes de preconceitos de
qualquer espécie, dando valiosa contribuição para o fortalecimento democrático
do país.
Apesar
da existência de legislações punitivas as ações de discriminação, verifica-se
que a mudança de posturas intolerantes só irá ocorrer paulatinamente através de
um processo educativo que busque envolver todos segmentos sociais e até tal
momento, caberá a cada pessoa preocupada com a atual situação denunciar e
combater qualquer ação preconceituosa.
domingo, 12 de julho de 2015
O racismo no Brasil: O caso Maju é mais um ...
Entre os assuntos discutidos pelas
redes sociais nos últimos dias, teve destaque as injúrias raciais sofridas pela
jornalista Maria Júlia (Maju) da Rede Globo, a qual recebeu solidariedade e apoio de milhares de
pessoas, da própria Rede Globo através do Jornal Nacional, algo nunca visto
anteriormente.
Em princípio, é importante ressaltar que a agressão cometida contra a jornalista é absurda e a mesma merece total apoio e solidariedade, assim como qualquer pessoa que passe pelo mesmo constrangimento e seja vítima da intolerância racial reinante no âmbito da sociedade brasileira e que atinge negros e negras independentes da social ou atividade profissional.
O episódio oferece uma excelente oportunidade para se pensar sobre o racismo, um assunto considerado como um “tabu” por alguns segmentos sociais, sendo, ao longo dos tempos, “escondido em baixo do tapete”, se negando a existência de preconceito racial no Brasil, tentando passar a ideia que há uma “democracia racial” no país, ou seja, haveria possibilidade de qualquer afrodescendente mudar suas condições de vida, dando exemplos da ascensão social de uma minoria da população negra, “esquecendo” que tal ascensão é esporádica e mesmo assim, essa pequena parcela sofre, costumeiramente, discriminação, como ocorreu no caso da jornalista Maju.
A prática demonstra que a ideia de “democracia racial” não passa de uma tentativa de mascarar a realidade vivenciada por negros e negras, que compõem a grande camada da população brasileira excluída socialmente, sendo vítimas permanentes de toda espécie de violência, sobrevivendo na periferia urbana, para onde foram descolados com a abolição da escravatura e, que até o momento, não foram criadas condições de sua inserção de forma real na sociedade.
O racismo é algo corriqueiro no Brasil e mantem barreiras para o povo negro, sendo um grande mal a ser combatido diariamente, verificando-se que o preconceito se encontra enraizada na relações humanas, passando de geração para geração, sendo expressado de forma direta verbal ou fisicamente, assim como sutilmente e camuflado, através de gestos e olhares, que dificulta sua identificação, constatando-se que uma parcela da população do país pode ser considerada racista.
Registre-se, ainda, que a expressão do racismo pode ser notada através de brincadeiras de mau gosto, com piadas discriminatórias, como era o caso do antigo Programa “Os Trapalhões” já mencionado em uma postagem anterior deste Blog, ou, no caso recente dos atletas brancos da equipe de ginástica brasileira que fizeram e gravaram várias piadas de teor racista com um atleta negro da equipe.
Observa-se que após a divulgação de episódios racistas, algumas pessoas se defendem utilizando o mesmo argumento: “tudo não passou de um engano, que não quis efetuar ofensa racial e que tenho até amigos negros”, ou seja, tentam criar um anteparo para suas atitudes preconceituosas, levando então muitos episódios para o esquecimento com passar do tempo, até que ocorra outro fato que venha ocupar espaço na mídia, como foi o caso da jornalista Maria Júlia.
Esse espaço na mídia é bastante limitado pois, geralmente, só há divulgação do fato, sem se realizar nenhum acompanhamento do desdobramento das ações racistas, bem como não são realizados debates que possam aprofundar a questão do preconceito, visto o interesse das redes de comunicações (rádios, televisões e jornais) na manutenção do status quo que só beneficia os autores das injúrias raciais.
Cabe lembrar que as grandes redes de comunicações, incluindo a própria Rede Globo e outros setores conservadores da sociedade brasileira, realizam campanhas sistemáticas direta e indiretamente contra as políticas públicas desenvolvidas nos últimos anos e que são voltadas para o combate ao racismo e à promoção da Igualdade Racial, entre as quais a adoção das cotas e a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial.
Finalizando, deve ser ressaltado que a implementação das referidas políticas públicas representa um passo fundamental para reparar os problemas históricos enfrentados pela população negra e criar mecanismos para que tal população possam alcançar os direitos fundamentais e básicos para que qualquer ser humano possa sobreviver independente da raça ou cor da pele e que o preconceito racial seja um fato superado e que não seja uma marca reinante no Brasil.
Em princípio, é importante ressaltar que a agressão cometida contra a jornalista é absurda e a mesma merece total apoio e solidariedade, assim como qualquer pessoa que passe pelo mesmo constrangimento e seja vítima da intolerância racial reinante no âmbito da sociedade brasileira e que atinge negros e negras independentes da social ou atividade profissional.
O episódio oferece uma excelente oportunidade para se pensar sobre o racismo, um assunto considerado como um “tabu” por alguns segmentos sociais, sendo, ao longo dos tempos, “escondido em baixo do tapete”, se negando a existência de preconceito racial no Brasil, tentando passar a ideia que há uma “democracia racial” no país, ou seja, haveria possibilidade de qualquer afrodescendente mudar suas condições de vida, dando exemplos da ascensão social de uma minoria da população negra, “esquecendo” que tal ascensão é esporádica e mesmo assim, essa pequena parcela sofre, costumeiramente, discriminação, como ocorreu no caso da jornalista Maju.
A prática demonstra que a ideia de “democracia racial” não passa de uma tentativa de mascarar a realidade vivenciada por negros e negras, que compõem a grande camada da população brasileira excluída socialmente, sendo vítimas permanentes de toda espécie de violência, sobrevivendo na periferia urbana, para onde foram descolados com a abolição da escravatura e, que até o momento, não foram criadas condições de sua inserção de forma real na sociedade.
O racismo é algo corriqueiro no Brasil e mantem barreiras para o povo negro, sendo um grande mal a ser combatido diariamente, verificando-se que o preconceito se encontra enraizada na relações humanas, passando de geração para geração, sendo expressado de forma direta verbal ou fisicamente, assim como sutilmente e camuflado, através de gestos e olhares, que dificulta sua identificação, constatando-se que uma parcela da população do país pode ser considerada racista.
Registre-se, ainda, que a expressão do racismo pode ser notada através de brincadeiras de mau gosto, com piadas discriminatórias, como era o caso do antigo Programa “Os Trapalhões” já mencionado em uma postagem anterior deste Blog, ou, no caso recente dos atletas brancos da equipe de ginástica brasileira que fizeram e gravaram várias piadas de teor racista com um atleta negro da equipe.
Observa-se que após a divulgação de episódios racistas, algumas pessoas se defendem utilizando o mesmo argumento: “tudo não passou de um engano, que não quis efetuar ofensa racial e que tenho até amigos negros”, ou seja, tentam criar um anteparo para suas atitudes preconceituosas, levando então muitos episódios para o esquecimento com passar do tempo, até que ocorra outro fato que venha ocupar espaço na mídia, como foi o caso da jornalista Maria Júlia.
Esse espaço na mídia é bastante limitado pois, geralmente, só há divulgação do fato, sem se realizar nenhum acompanhamento do desdobramento das ações racistas, bem como não são realizados debates que possam aprofundar a questão do preconceito, visto o interesse das redes de comunicações (rádios, televisões e jornais) na manutenção do status quo que só beneficia os autores das injúrias raciais.
Cabe lembrar que as grandes redes de comunicações, incluindo a própria Rede Globo e outros setores conservadores da sociedade brasileira, realizam campanhas sistemáticas direta e indiretamente contra as políticas públicas desenvolvidas nos últimos anos e que são voltadas para o combate ao racismo e à promoção da Igualdade Racial, entre as quais a adoção das cotas e a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial.
Finalizando, deve ser ressaltado que a implementação das referidas políticas públicas representa um passo fundamental para reparar os problemas históricos enfrentados pela população negra e criar mecanismos para que tal população possam alcançar os direitos fundamentais e básicos para que qualquer ser humano possa sobreviver independente da raça ou cor da pele e que o preconceito racial seja um fato superado e que não seja uma marca reinante no Brasil.
domingo, 7 de junho de 2015
Muito mais que a Semana do Meio Ambiente
Como em anos anteriores,
diversas instituições públicas, privadas e não governamentais veem realizando,
desde o dia 01 de junho, eventos comemorativos a “Semana do Meio Ambiente” (que
em alguns casos se estendem por todo mês), já que no dia 05 de junho é
celebrado o “Dia Mundial do Meio Ambiente”, objetivando incentivar a ampliação
de práticas voltadas à preservação ambiental.
Neste contexto, é interessante verificar
se tal objetivo vem se concretizando, avaliando se ocorreram mudanças nas ações
humanas no tocante ao relacionamento com meio ambiente, ou seja, se foram
proporcionadas novas condições para um desenvolvimento sustentável no âmbito da
sociedade a partir de eventos de anos anteriores.
De imediato, se observa que grande parte
das instituições concentram seus eventos em prol do meio ambiente no mês de
junho, só realizando, no restante do ano, eventos em determinadas datas
específicas em cumprimento de um calendário oficial, não contribuindo assim com
a mudança de práticas que garantam uma real sustentabilidade socioambiental.
Este quadro deixa evidente a falta de
programa de educação ambiental em muitas organizações, notadamente naquelas do
setor público, havendo, na realidade, a execução de ações pontuais e
esporádicas, cujos resultados são incipientes, visto que não há uma prioridade
política para o referido setor, prejudicando, portanto, o desenvolvimento de
atividades permanentes que levem a transformação humana no tratamento das questões
do meio ambiente.
A situação acima não possibilita a
minimização dos problemas ambientais, já que a falta de ações educativas
continuadas impedem a mudança completa de hábitos das pessoas e a ampliação da
consciência tanto do ponto de vista individual e como coletivo no sentido do
envolvimento de outros segmentos sociais, além das organizações não
governamentais, na preservação do meio ambiente, através da inclusão do tema
ambiental na agenda dos mesmos.
Não há como se pensar em defesa do
meio ambiente sem que ocorra o combate das mazelas implantadas pelo capitalismo,
entre as quais o consumismo e o individualismo, que provocam o uso inadequado
dos recursos naturais e agressões ambientais, que provocam riscos para o futuro
não só da natureza como também para própria humanidade.
Vê-se, então, a necessidade da
abordagem das questões sociais e econômicas da sociedade entre as temáticas de
cada programa ambiental, pois, caso contrário, não haverá a oferta de condições
para o público alvo de determinada ação educativa rever posturas e se envolver
concretamente na busca de mecanismos que contribuam para transformação de
práticas coletivas no sentido do uso sustentável dos recursos naturais e
transformação das relações humanas.
É importante ressaltar que a opção do
“ter’ e não do “ser” proporciona um relacionamento doentio com o meio ambiente,
visto a concepção de manutenção do status quo de uma elite social, através da
ampliação dos bens econômicos, levando, inclusive, a apropriação insustentável
dos recursos naturais, assim como a maioria dos seres humanos mantem um consumo
desenfreado em busca de uma satisfação pessoal imposta por uma doutrinação
capitalista.
Logicamente que não cabe afirmar que
as pessoas não possam satisfazer seus desejos, porém não é aceitável que tal
satisfação provoque colapsos ambientais, como se vê na atualidade no caso da
crise hídrica, devastação de recursos florestais, extinção de espécies animais,
lançamento e disposição inadequados de resíduos, emissão de poluentes, entre
outros problemas que afetam o meio ambiente.
Entendendo que a preservação ambiental
e o uso sustentável dos recursos naturais dependem do envolvimento e
participação de pessoas conscientes de seu papel na sociedade, logo as ações de
educação ambiental devem contribuir para ampliação do nível de cidadania e que
não será ocorrerá só com ações esporádicas como as realizadas na “Semana do
Meio Ambiente”.
domingo, 17 de maio de 2015
Cidades e desenvolvimento sustentável: Mito ou realidade?
Os dados
da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que 54% da população mundial
residem nos centros urbanos, taxa que chega aos 84% no Brasil, conforme
resultados do censo de 2010, havendo indicativos do crescimento desses
percentuais nos próximos anos, demonstrando necessidade de se pensar a proposta
de desenvolvimento de cada cidade, a qual sinaliza futuro pretendido para a
mesma.
A análise
da situação nos centros urbanos, notadamente naqueles considerados como médios
e grandes, aponta para um desenvolvimento cada vez menos sustentável, com
problemas estruturais não solucionados ao longo do tempo, bem como por um
planejamento que favorece um crescimento que não atende a demanda de grande
parte da população, mantendo um processo de exclusão social.
Lembrando
que o termo “desenvolvimento sustentável” foi registrado em documentos oficiais
pela primeira vez em 1987, através do “Relatório Brundtland”, elaborado pela
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, e a
partir de então, passou a fazer parte de diversos documentos governamentais em
vários países, incluindo o Brasil, sendo um dos pilares das Agendas 21 global,
nacional e locais.
Uma das
definições usual de desenvolvimento sustentável diz que é “o desenvolvimento
que procura satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer a
capacidade das gerações futuras atenderam suas próprias necessidades”, cuja
análise demonstra que os centros urbanos caminham em sentido oposto de tal
desenvolvimento, ou seja, vem atingindo um nível de vida considerada
coletivamente como insatisfatório e não oferecem condições adequadas para uma
perfeita sobrevivência humana ao longo dos anos.
De um
modo geral, as cidades, que são constituídas de desigualdades socioespaciais,
enfrentam problemas estruturais, entre os quais se destacam:
- Falta
de uma política habitacional que atende a população mais pobre, levando a um
crescimento do número de favelas e áreas de baixa renda.
-
Ocupação desordenada de áreas naturais, como mangues, estuários, áreas
alagadas, margens de rios pela população carente e também por pessoas de maior
poder aquisitivo e empreendimentos diversos, com risco de enchentes em período
chuvoso.
- Risco de deslizamentos erosões, devido a ocupação
de áreas de encostas.
- Inexistência de uma política de arborização, que
possibilite a ampliação das áreas verdes.
- Poluição hídrica provocada pelo lançamento de
efluentes líquidos sanitários e industriais e disposição inadequada de resíduos
sólidos.
- Falta de política voltada para reciclagem dos
resíduos sólidos juntamente com um trabalho educativo voltado para
diminuir a geração dos mesmos, visto o aceleramento do nível consumo da
sociedade.
-
Sobrecarga na rede de infraestrutura urbana e na oferta dos serviços públicos,
devido o aumento de grandes edifícios.
-
Engarrafamentos diários decorrentes do crescimento do uso de veículos
particulares, faltando se dá prioridade para o transporte público, o que
contribui com a ampliação da poluição atmosférica.
Além
destes problemas estruturais, a falta de adoção do modelo de desenvolvimento
sustentável nas cidades pode ser constatada através das propostas que vem sendo
e se pretendem implantar para o uso do solo, como a recente sanção de uma lei em
Recife, a qual institui o plano específico para o Cais José Estelita, Santa
Rita e Cabanga, prevendo a implantação, de torres residenciais e empresariais, que
mudará por completo as características ambiental, social, histórica e cultural
das três localidades situadas no centro da capital pernambucana.
O
referido plano específico, caso seja concretizado, possibilitará a implantação
do polêmico Projeto Novo Recife no Cais José Estelita, o qual tem a oposição de
diversos segmentos da sociedade e irá beneficiar uma elite social em
detrimento, novamente, das pessoas mais pobres, ressaltando que os gestores públicos
defendem a mesma concepção de desenvolvimento para outras localidades da
cidade, tendo como exemplo, a proposta de implantação de empreendimentos
particulares na área da Vila Naval, no bairro de Santo Amaro, ou seja,
beneficiando, novamente, a iniciativa privada.
Finalizando,
observa-se que a adoção do modelo de desenvolvimento sustentável nas cidades
necessita contemplar as desigualdades ora existentes, através da execução ações
que atendam o interesse da maioria da população e não de determinados grupos
econômicos, além de priorizar a democratização das decisões, permitindo a
permanente participação da sociedade, abrindo canais de diálogo efetivo com os
segmentos sociais.
sexta-feira, 27 de março de 2015
Uso insustentável da água
Os movimentos e especialistas ambientalistas se contrapuseram, durante anos, a concepção que a água era um recurso natural infinito, sem a obter a adesão dos governantes e dos diversos segmentos sociais no sentido da implantação de medidas voltadas para sua utilização de forma racional.
Observou-se, então, que o ser humano utilizou os recursos hídricos sem planejamento, verificando-se um consumo exagerado e desordenado, bem como sem perspectivas para o futuro, culminando com a atual crise hídrica que atinge milhares de pessoas em várias partes do mundo, inclusive em grandes centros urbanos brasileiros, que, anteriormente, não passavam por esse problema.
O pensamento da supremacia humana reinante no mundo ocidental, decorrente do princípio que o homem pode fazer e ter tudo já que havia sido feito a imagem e semelhança de Deus, levou uma parcela dos seres humanos a manter uma relação desarmoniosa com a natureza, cujos recursos foram utilizados, historicamente, para manutenção do poder econômico e social, incluindo a questão da água, usada preferencialmente para atender os interesses dos grandes proprietários de terras e empreendimentos industriais.
Esta situação continua persistindo e atualmente no Brasil tem-se um consumo excessivo dos recursos hídrico na agropecuária e indústrias, logo as ações voltadas para uso racional da água não podem se restringir exclusivamente para as atividades domésticas e deveriam incluir os setores produtivos do campo e do meio urbano.
Os recursos hídricos continuam sendo constantemente agredidos pelo lançamento e despejo de efluentes líquidos, produtos químicos, resíduos sólidos, ou seja, por aquilo descartado pela sociedade, além de sofrer com o uso inadequado do solo, queimadas, devastação de mata ciliar e desmatamento de forma generalizada, proporcionando aceleração do processo erosivo dos recursos hídricos.
O quadro acima evidencia que as ações humanas são majoritariamente desenvolvidas de forma insustentável, acelerando os efeitos negativos do aquecimento global e a consequente diminuição do período chuvoso, causando sérios prejuízos ao ciclo hidrológico, levando a escassez de água e ocasionando estiagem em diversas regiões do planeta, entre as quais o semiárido e centros urbanos brasileiros.
Analisando as ações educativas relacionadas a ampliação da consciência sobre a importância do uso racional da água, incluindo aquelas desenvolvidas nas recentes comemorações do “Dia Mundial da Água”, verifica-se que, até o momento, os resultados positivos obtidos foram limitados, faltando um aprofundamento das causas da crise hídrica, pois tais ações geralmente se voltam diretamente para atitudes individuais, como, se desta forma, os problemas atuais dos recursos hídricos pudessem ser superados.
Com o aprofundamento citado acima, haveria oportunidade da constatação que o problema da água se encontra relacionado com o modelo de vida da sociedade, centrado no consumismo exagerado e valorização do individualismo, mazelas decorrentes de um sistema econômico globalizado e excludente.
Por outro lado, a implantação de políticas públicas de saneamento nos estados brasileiros, assim como aquelas dos demais setores, prioriza o atendimento às elites sociais, não possibilitando a democratização da oferta dos serviços, além de serem desenvolvidas gestões deficientes que chega acarretar um desperdício em torno de 37% da água tratada.
Finalizando, verifica-se que a crise hídrica vivida pela sociedade brasileira não será superada sem uma mudança das práticas usualmente utilizadas não só por parte de cada pessoa individualmente, assim como pela agropecuária, indústrias e demais setores produtivos, os quais necessitam assumir seus compromissos sociais, adotando medidas que diminuam o desperdício e a escassez de água, juntamente com a melhoria das gestões públicas de saneamento, incluindo a construção de espaços participativos e de controle social.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Crise hídrica e a regulação da grande mídia
Em qualquer programa
jornalístico a nível nacional, vem se observando notícias sobre a crise hídrica
que assola principalmente os estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro, relatando a situação vivenciada, diariamente, pela população com a
carência de água devido o baixo nível dos rios, bem como diversas propostas que
os chamados “especialistas” apontam para solucionar tal problema.
Uma grande parte da
população nordestina vem sofrendo, anos após anos, com problemas decorrentes da
seca, sem que o assunto tivesse uma cobertura dos grandes meios de comunicação
social, principalmente as redes de televisão, de forma semelhante como vem
ocorrendo atualmente, quando a falta de água atingiu os estados da Região
Sudeste do Brasil.
O destaque dado ao
assunto mostra como, historicamente, a grande mídia nacional colocou a Região
Nordeste em segundo plano, já que no período em que a seca era um problema
específico do Nordeste não havia tanto espaço de abordagem da questão nos
noticiários, ocorrendo, apenas, reportagens esporádicas.
Outro aspecto que merece ser analisado é o comportamento dúbio dos meios
de comunicação em massa, que contribuíram decisivamente com a estratégia
política de governos estaduais, principalmente no caso de São Paulo, no sentido
de esconder a crise hídrica durante o período eleitoral do ano passado,
buscando beneficiar candidaturas ao executivo estadual, só divulgando fatos
isolados da situação até a realização das eleições, quando, então, passou a
divulgar o problema com maior ênfase, como se, anteriormente, os problemas não
estivessem ocorrendo em larga escala.
No tocante ao conteúdo dos programas jornalísticos se verifica, em
grande parte, que a falta de chuva é colocada como a vilã da crise hídrica, sem
haver um aprofundamento das verdadeiras causas dos problemas, as quais se
encontram relacionadas às ações anteriores do ser humano referentes ao uso
irracional dos recursos naturais e a ideia que a água era um recurso
inesgotável.
Algumas reportagens procuram culpabilizar as pessoas individualmente
pela crise hídrica, diante problemas de vazamento nas instalações de suas
residências ou pelo aumento do consumo da água, que, certamente, tem
contribuição com o atual estado, porém não no nível alardeado nos noticiários,
lembrando que haveria necessidade de analisar a problemática com maior
profundidade.
Caso a grande mídia realizasse tal análise verificaria que a forma como
parcela dos seres humanos pertencente a elite privilegiada utiliza os recursos
naturais, buscando manter o “status quo” do lucro excessivo e da propriedade
privada, contribui decisivamente com o uso irracional de água e ampliação da
crise hídrica, lembrando que tal utilização é baseado no argumento defendido
por parte da sociedade humana, que tendo como base a concepção que os seres humanos
foram feitos a imagem e semelhança de Deus, logo tem poder total sobre a
natureza, que, então, pode ser transformada e apropriada para
manutenção da exploração econômica e exclusão social.
Como a questão não é reportada nitidamente pelos grandes meios de
comunicação social, não se analisa com profundidade que a diminuição do volume
de águas nos rios e demais recursos hídricos e os prejuízos ao ecossistema ali
existente são consequência do fato que o ciclo hidrológico não vem ocorrendo completamente
devido a poluição, queimadas, devastação de mata ciliar e desmatamento de forma
generalizada, havendo uso inadequado do solo para atividades humanas.
É essencial, portanto, que os meios de comunicação em massa assumam sua
responsabilidade social, e, para tanto, deveria realizar um trabalho educativo
para que a população torne-se verdadeiramente protagonista na busca de soluções
para crise hídrica, pois sem o controle social e a participação da sociedade
dificilmente as saídas duradouras para tal crise serão encontradas e
viabilizadas pelos governantes.
Finalizando, observa-se a importância
da regulação e democratização dos meios
de comunicação em massa, pois, atualmente, utilizando o argumento da liberdade
de imprensa se tem uma atuação deplorável da grande mídia, a qual não atende os
interesses da coletividade, como se vê na questão da crise hídrica acima
abordada.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Humor ou ofensa?
Em uma
entrevista para uma revista de circulação nacional, o humorista Renato Aragão
(Didi), se reportando as piadas discriminatórias realizadas no período do
programa denominado “Os Trapalhões”, afirmou que "Hoje, todas as classes
sociais ganharam a sua praia, e a gente tem que respeitar muito isso. Eu sou
até a favor. Mas, naquela época, essas classes dos feios, dos negros e dos
homossexuais, elas não se ofendiam. Elas sabiam que não era para atingir, para
sacanear".
Refletindo
sobre a entrevista, é importante lembrar que o programa de Renato Aragão teve
seu auge na época da ditadura militar, época de repressão e domínio da censura
as produções artísticas, logo, é de se imaginar que tal programa possuía a conivência
dos governantes de então, pois não há registros que tenha sofrido nenhuma espécie de censura, ou seja, havia
permissão oficial para as piadas sobre negros e gays, que, certamente, serviam
como uma das “válvulas de escape” para o momento político naquele período.
Como não
havia espaços para nenhum grupo se opor as ideias divulgadas na mídia,
inclusive no programa do referido humorista, não há, portanto, nenhum
embasamento para a afirmativa que “os negros e homossexuais não se ofendiam”,
se verificando que tais grupos e outros que sofressem ofensa e injúria se viam
obrigados aceitar o fato de serem massacrados semanalmente através de um humor preconceituoso.
Não se
pode esquecer que o período referenciado por Didi corresponde aquele em que
atores e atrizes de cor negra tinham espaços limitados nas produções artísticas
da televisão, só sobrando interpretações de papeis como escravos, porteiros e
empregados domésticos, demostrando a existência uma cultura preconceituosa na
mídia, que eram mantidas em programas humorísticos como os Trapalhões e outros semelhantes.
A
entrevista mostra que a problemática histórica do preconceito e da discriminação
dos meios de comunicações do Brasil ainda necessita de ações concretas para
serem superadas, pois, atualmente, com o argumento de “liberdade de imprensa e
de expressão”, algumas pessoas defendem que podem continuar fazendo piadas com cunho de racismo, homofobia, xenofobia, machismo e intolerância religiosa, afirmando que o autodenominado “humor politicamente correto” impede
a criatividade do artista.
Vê-se,
então, uma situação aberrante, pois aceitar tal “liberdade de imprensa e de
expressão” nos leva aceitar que determinados grupos sociais, geralmente,
excluídos socialmente, continuem sendo objeto de um humor sujo e sem ética,
construído sem respeito a dignidade e ao valor humano.
É importante
registrar a ideia defendida por Austro Queiroz, fundador do Movimento Phenix,
amigo deste blogueiro e que faleceu em 2012, o qual afirmava que se a pessoa
que fosse objeto de uma greia não risse com a brincadeira, a mesma não teria
sentido e perderia seu objetivo, cabendo, então, perguntar: Será que Mussum ria
das piadas de Renato Aragão?......
Deve se
ressaltar que a regulação da mídia certamente contribuiria para minimizar esta
situação, porém só com mudanças concretas da forma de agir da população se dará
passos concretos para derrubar as barreiras do preconceito e discriminação
ainda mantidas por alguns segmentos sociais, como por exemplo, no tocante a questão
racial.
A
entrevista oferece a oportunidade de refletimos sobre a defesa do autor de ação
racista, que é, geralmente, afirmar que “tudo não passa de um engano, que não
quis efetuar ofensa racial e que tem até amigos negros”, devendo se destacar
que a sutileza do racismo no Brasil dificulta sua identificação, pois não
ocorre de forma direta, se apresentando camuflado.
Assim
como os negros e negras, outros grupos discriminados passam por situação
semelhante, havendo necessidade urgente de se rever práticas, abrindo
discussões sobre o tema em diversos esferas de relacionamento, como família,
escola, igreja, trabalho, pois só uma nova sociedade brasileira só será
construída, caso haja mudanças de posturas das pessoas, se respeitando o
semelhante pelo que ele(ou ela) é e não por aquilo que queremos que seja, nos
transformando em uma sociedade tolerante e verdadeiramente democrática.
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